Tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, o etanol baixou – até a ANP percebeu isso – e estamos todos resolvidos. Estamos?
Conversa fiada, o etanol está muito caro.
Ano passado, por esta época, não batia R$ 0,73 por litro, contra do R$ 1 real por litro de hoje, no preço pago às usinas.
Ponha aí 10% de inflação – muito mais que a real - acumulada e o preço seria de R$ 0,80 por litro.
Isso dá uma aumento de perto de 25% em valores nominais ou 18,3% em valor real, descontada a inflação.
O preço não caiu mais porque, com é legítimo dentro das “leis de mercado” os grandes produtores estão vendendo menos do que produzem.
Porque agora podem, até com financiamentos públicos, estocar . Estocando, podem vender a preços melhores na entressafra.
E o “livre mercado” não pode controlar isso? Não, porque metade da produção está concentrada em cerca de 30 empresas.
A ANP faz pressão para que o BNDES financie a construção de tanques nas usinas. Coisa pouca, “só” R$ 3 bilhões. E os próprios fabricantes de tanques dizem que, de tanques de um milhão de litros, as usinas agora querem tancagem de 10, 20 e até 40 milhões de litros de etanol.
Tanques que chegarão na entressafra abarrotados, para aproveitar ao máximo a alta de preços. E que, ao serem enchidos no período da safra ajudarão a “segurar” a oferta e, com ela, os preços.
A Presidenta Dilma assinou, há mais de um mês, uma Medida Provisória que dá à ANP o poder de controlar a produção e os estoques de etanol. A ANP colocará isso em prática no dia seguinte ao de São Nunca.
A Petrobras desenvolver uma capacidade própria de tancagem é essencial, mas não é o suficiente. As usinas têm de ser obrigadas a vender na safra o que produzem ou, se estocarem, a vender a preços administrados. Ou seja, podem guardar etanol, mas ao vender o que têm guardado devem ser impedidas de fazê-lo com mais – e muito mais – lucro que se o tivesssem colocado.
Ninguém está, é claro, advogando uma solução primária daquele tipo de “ir laçar boi no pasto”, com a cana agora no lugar do boi. Mas tem-se de encontrar maneiras de “punir” financeiramente a estocagem especulativa, que as grandes usinas fazem e, claro, os pequenos e médios produtores não fazem.
O mercado sucroalcooeleiro sabe muito bem disso. Veja o que saiu há poucos dias no site Brasilagro, especializado em agronegócios:
A baixa oferta de etanol durante a entressafra, quando os preços tradicionalmente sobem, é um grande filão para os grupos produtores do setor sucroalcooleiro. Mas para isso, as usinas devem ter caixa, pois o custo de armazenagem requer capital de giro disponível. A ETH Bioenergia, divisão de etanol do Grupo Odebretch, pretende nesta safra armazenar cerca de 60% de sua produção para vender após o fim da colheita no Centro-Sul do país. - Os custos para armazenagem fazem parte da estratégia do grupo desde que a ETH foi criada – afirma o vice-presidente de operações da Agroindustriais da ETH Bioenergia, Luis Felli.
“Liberdade de mercado” é isso aí. Se não houver auditagem pública dos estoques, estabelecimento de cotas de comercialização e capacidade estatal, via Petrobras, de manter estoques em volume capaz de interferir em surtos especulativos na oferta, o drama dos preços do etanol fica igual ao carnaval: um ano,um pouco mais cedo, noutro ano, um pouco mais tarde, mas todo ano tem.
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