segunda-feira, 27 de junho de 2011

País vai melhor para o povo que para os economistas




No artigo que publica hoje na Folha de S. Paulo – o texto só está aberto para assinantes – o professor Marcelo Néri diz que, entre os países emergentes conhecidos como Brics, o Brasil “vai melhor para a população que para os economistas”.


Essa é a grande virtude e, ao mesmo tempo, a grande fragilidade do processo brasileiro de desenvolvimento.


Virtude porque o desenvolvimento econômico, aqui, ao contrário do que marcou nossa história e, segundo a pesquisa que Neri lança amanhã – Os Emergentes dos Emergentes: Reflexões Globais e Ações Locais para a Nova Classe Média Brasileira -, e do que ocorre também nos demais países emergente e no mundo desenvolvido, o crescimento tem representado não apenas inclusão social mas um maior nível de equidade na distribuição da riqueza.
E fragilidade porque, mesmo entre os economistas de talhe progressista, têm-se dificuldade de lidar com serenidade com taxas de expansão econômica às quais nós, brasileiros, para falar sinceramente, estamos pouquíssimo acostumados. Na verdade, nosso hábito é formado pelas experi~encias que tivemos de, a cada pequeno intervalo de properidade econômica, semos atropelados pelo “rombo” que aquilo nos custaria a seguir.


De fato, esta série se inicia com o “milagre econômico” dos anos 70, desmontado não apenas pelo endividamento externo contraído para alimentá-lo, que a crise do petróleo de 74 fez catalisar sua inviabilidade e passa pela expansão artificial do consumo no Plano Cruzado e, finalmente, pelo delírio cambial do Plano Real, que agravou o endividamento público, temperado com pequenos – sim, foram pequenos em valores, embora extremamente grandes em consequências – recursos vindos da privatização de setores fundamentais da economia.


Talvez, por isso, poucos estejam se dando conta do que, salvo tremores imprevisíveis, ocorrerá com a economia brasileira dentro de poucos meses. O reajuste do salário mínimo, mantida a fórmula transformada em lei, vai beirar os 14% em valores nominais e será de 7,5% em valor real. Isso é o maior reajuste desde o biênio 2005/06, quando se iniciou o atual ciclo de desenvolvimento.


Só que, ao contrário daquele período, quando vínhamos ainda de um processo de retração econômica que se seguiu à crise de 2002, no final do período FHC, o acréscimo de consumo virá sobre uma base já expandida pelo “ano de ouro” de 2010. Este acréscimo – tanto pela inclusão de camadas muito pobres, onde a vinculação da renda ao mínimo é mais intensa, quanto pela expansão do consumo dos já minimamente presentes no mercado – exige que nos preparemos para ele.


A política de expansão, para que se evite sub-abastecimento e pressão sobre preços, tem de começar já, para que os investimentos produtivos estejam em vias de opoeração quando estes efeitos deste novo salto na renda começarem a surgir ou, pelo menos, decisões de ampliação da capacidade produtiva estejam tomadas.


Um passo positivo foi dado com o incremento do financiamento ao plano de safra agrícola 2011/12. Mas na área industrial, no comércio e nos serviços, a política de juros já está provocando, embora não haja retrações mensuráveis na sua atividade, o adiamento de decisões de expansão, de modernização e reeestruturação.


Muito embora se possa compreender que não é possível viver a euforia todo o tempo, roda-presa é algo que se demora a soltar. E estar de roda-presa na hora de ter de acelerar para acompanhar a expansão do consumo é um desastre. Não apenas para as empresas, mas para a economia nacional como um todo, pelos gargalos e pressões altistas que isso gera.


A aceleração tem que começar já, e com ênfase nos setores onde ela mais demanda tempo para produzir movimento, como o de energia, metalurgia, construção pesada, etc, que não podem ser rapidamente supridos por importações, num primeiro momento.


Os dirigentes de nossa área econômica, hoje sob as palmas do “mercado” pela elevação dos juros e pelos sinais já evidentes de desaceleração econômica, devem se lembrar que até alguns meses atrás eram ridicularizados pelos mesmos “sabidos” justamente por não quererem impor um arrocho maior à economia.


E que quanto nos custou na recuperação econômica na crise de 2008 – embora esta recuperação tenha sido fortíssima – a demora e a resistência do Banco Central em baixar os juros. Uma demora que teve, naquela ocasião, a oposição insistente e firme do mesmo ministro da Fazenda, Guido Mantega.


Nenhum comentário: