segunda-feira, 20 de junho de 2011

Desigualdade cai no Nordeste. Renda cresce menos em São Paulo



O Brasil ficou menos desigual na década passada. A divulgação dos dados do Censo Demográfico do IBGE esmiúça como o movimento afetou as cidades.


A comparação da renda média domiciliar per capita em 2000 e 2010 mostra, por exemplo, que municípios do Nordeste tiveram os maiores ganhos na renda por pessoa, enquanto cidades paulistas lideram a lista das que menos avançaram na década.


Considerando apenas os municípios com mais de 100 mil habitantes -os muito pequenos são mais sujeitos a variações-, entre os 50 que mais avançaram, metade são nordestinos e um paulista (Franco da Rocha).


Já na lista dos 50 que menos avançaram, 36 são de São Paulo. Corrigindo os valores de 2000 pela inflação acumulada em dez anos pelo INPC (indicador do IBGE), 12 tiveram até mesmo pequena queda no rendimento médio. Nove entre eles são paulistas.


É natural que municípios mais pobres tenham margem maior para avançar mais. No entanto, isso nem sempre ocorreu num país que se acostumou com a desigualdade. Nos anos 80, por exemplo, São Paulo viu a renda média de seus domicílios subir 17%, enquanto o Maranhão avançou 7%.


Na década passada, os domicílios paulistas registraram o menor crescimento entre todas as unidades da federação (apenas 3%), enquanto nos maranhenses a variação foi de 46%.


Para João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ, a "melhora substancial na distribuição regional dos rendimentos" ocorreu graças especialmente ao desenvolvimento de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e ao aumento do salário mínimo, que variou 70% na década, descontada a inflação.


Pedro Herculano de Souza, do Ipea, explica que o Bolsa Família, apesar do baixo valor da transferência (varia de R$ 32 a R$ 242), tem impacto muito grande em cidades menores e nas quais a renda familiar é muito baixa.


Ele lembra que a Previdência Rural, cujo benefício é vinculado ao mínimo, incide mais nessas áreas.


Segundo Claudio Dedecca, da Unicamp, o aumento do mínimo repercute mais no mercado de trabalho das cidades mais pobres, pois um contingente maior tem rendimentos vinculados a ele.

"A década foi marcada por ampliação da política social e crescimento de qualidade, graças à maior dispersão dos investimentos sobre o território nacional, beneficiando áreas mais pobres", resume Lena Lavinas, da UFRJ.


Renda cresce menos na Grande São Paulo


O fato de partirem de uma base menor explica em parte por que cidades nordestinas tiveram variação maior na renda domiciliar. No caso dos municípios paulistas de menor renda, porém, o crescimento foi menor.


Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, já registrava em 2000 uma renda média per capita (de R$ 617) inferior à média nacional (R$ 737). Dez anos depois, o Brasil cresceu 13% quando se considera a inflação do período, e a cidade registrou ligeira queda (-2%).


Outras cidades da Grande São Paulo com renda domiciliar baixa tiveram variações nulas -caso de Guarulhos- ou abaixo da média nacional, como Embu (6%), Suzano (3%) e Diadema (4%).

Pedro Herculano Ferreira de Souza, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que as cidades no entorno da capital sofrem com um processo de desconcentração da economia para o interior.Houve forte migração da indústria, especialmente de ramos que geram muitos empregos -como alimentos, têxtil e outros. "O emprego formal cresceu muito fora das metrópoles", diz Souza.


As cidades que circundam a capital paulista também não se favoreceram da alta dos preços de produtos negociados no mercado internacional. O benefício ocorreu, por exemplo, em Sinop (MT), produtora de soja, e Itabira (MG), polo de mineração.O economista Claudio Dedecca, da Unicamp, explica ainda que, em São Paulo, o alcance de programas como o Bolsa Família é menor. Além disso, o reajuste do salário mínimo também tem menor impacto.


De um lado, porque a maior parte dos trabalhadores paulistas recebe mais do que o mínimo - assim, a correção deixa de ser uma referência para outros reajustes. De outro, porque a Previdência Rural, vinculada ao mínimo, conta com poucos beneficiários no Estado.


Outro fator de dinamismo citado por especialistas fora do eixo dos grandes centros são as grandes obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como a ferrovia Norte-Sul e as hidrelétricas da região Norte.


Na Folha


Nenhum comentário: