quinta-feira, 9 de junho de 2011

“Juristas”, contem outra história, que inflação não cola




Ontem à noite, falando sobre a elevação da taxa de juros – a Síndrome de Estocolmo, leia aqui - procurei mostrar que a trajetória da inflação, este ano, é muito semelhante à do ano passado.


Os senhores “previsores de inflação”, anotem aí: mesmo com o “terrorismo de mercado”, teremos agora o mesmo fenômeno que tivemos no ano passado: os meses de junho, julho e agosto registrarão inflação muito próxima de zero e, talvez até, alguma pequena retração.


Isso não é “chute”, é o que os números mostram, se algum dos nossos “comentaristas econômicos” quiser ter algum trabalho de analisá-los fora das comparações estatísticas mais convenientes para produzirem impressões fortes, porém errôneas.


Os jornais divulgam hoje que a primeira prévia do IGP-M de junho – o que chamam de “inflação do aluguel, porque reajusta estes contratos - caiu 0,09%, após apresentar aumento de 0,70% em igual prévia do mesmo índice no mês passado.


Muito bom, não é verdade?


Não, não é muito bom, é uma queda enorme.


Porque o INPC de junho embute, todo ano, uma variação sazonal muito expressiva, que é a alta no índice da construção civil, provocada pela elevação dos custos de mão-de-obra, já que, nesse mês, capta-se a variação provocada pelo dissídio coletivo dos trabalhadores do setor. E que foi, em São Paulo – região que tem o maior peso -, de 9,75%.


Embora o INCC só componha 10% do IGP-M total, a variação foi alta: passou de 0,94% na pesquisa de maio para 2,97%, na soma ponderada dos 0,45% dos materiais com os 5,54% da mão de obra, em junho.


Trajetória semelhante à do ano passado, quando subiu de ??0,55% para 2,18%.


Se “expurgarmos” a variação deste índice do índice total, o IGP-M registraria uma deflação de 0,18%, resultado da soma ponderada entre o Indice de Preços ao Consumidor (-0,18%) e o Índice de Preços no Atacado (-0,53%). O mesmo cálculo, no mesmo período do ano passado, indicaria uma inflação de 0,79%, sempre de acordo com a fórmula de cálculo da FGV.


Mais importância ainda tem o fato da queda estar concentrada nos preços por atacado que, em condições normais, tendem a repercutir, depois, no consumo de varejo.

As elevações de preço, é claro, são reais. Mas pontuais. São mais eficientemente enfrentadas com ações pontuais – as tais “intervenções do Estado”, que deixam os ortodoxos de cabelo em pé – do que com medidas generalizadas de desaceleração da economia que, como dizia a minha avó, arriscam a jogar fora a criança junto com a água do banho.


Economia é uma ciência, sim, mas é uma atividade humana, movida por desejos humanos, ainda que estes desejos humanos, para alguns indivíduos, sejam totalmente desumanos e não se envergonhem em trazer desemprego, empobrecimento e atraso.


Os formuladores do governo Dilma, que sofrem e tem de escorar as pressões de mercado com habilidade – reconheço – não podem perder de vista o cenário inteiro (e o cenário inteiro envolve as ondas do mercamídia, esta simbiose entre o mercado financeiro e a mídia que nos assola). O Brasil já entrou num processo de retração do crescimento. Pode ter sido necessário desacelerar este crescimento. Mas será imperdoável desfazê-lo.


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