A imprensa, agora, só publica que o preço do etanol está caindo, etc, etc… Já alertei aqui que a coisa não é bem assim.
Ninguém está prestando atenção ao fato de que, passado o pior da crise, e ainda no início de safra, as usinas agora estão enchendo seus tanques e, por isso, vendendo menos e impedindo a queda do combustível para o preço tradicional deste período, que deveria estar abaixo de R$ 0,80 por litro.Com isso, os preços no etanol voltaram a subir, e não foi “levemente”.De sexta-feira da semana passada para ontem, o preço do metro cúbico (mil litros) de etanol subiu 8,7%, segundo o indicador de preços do Cepea/USP em Paulínia.
Aliás, enchendo os tanques que a gente nem sabe se esvaziaram de todo no final da entressafra porque as vendas despencaram para níveis mínimos e, mesmo em maio, com a queda de preços, ficaram 60% abaixo das do mesmo mês, em 2010.
A ANP, claro, está deitada em berço esplêndido, e só daqui a 15 dias colocará em consulta pública a primeira resolução sobre regulação do mercado de etanol, para exercer o poder que a presidenta Dilma Rousseff lhe deu, por Medida Provisória, no dia 29 de abril.
Ou seja, dois meses só para fazer a consulta pública.
Enquanto isso, as usinas – só as usinas, não os consumidores de combustível – enchem os tanques. Muitos deles, aliás, construídos com financiamentos do BNDES. Ou seja, o Estado financia os tanques, mas não pode verificar se eles estão sendo usados para especular.
O economista Julverme Tonin, coordenador de estudos agrários da Universidade Estadual de Maringá , em outubro passado, deu uma entrevista sobre esta manipulação dos preços, que parece ser uma assunto tabu na nossa grande mídia.
Leia só este trecho:
O Diário – Qual a influência da entrada do etanol no mercado de futuros da bolsa?
Julyerme Tonin – Na bolsa não tinha contrato para você travar preço futuro de etanol hidratado. Esse ano, em maio, a BM&F lançou um contrato neste sentido. O que a bolsa faz agora é ajustar o preço a ser pago lá na frente. Estão vendo que lá, durante a entressafra, vai faltar o produto, que em meados de março do ano que vem vai ocorrer problemas de abastecimento.Então, ela já seguram os estoques. Não quer dizer que os estoques estão baixos agora. Em janeiro e fevereiro, houve uma recomposição dos estoques, o problema é que estão agindo com cautela.
O Diário – A bolsa está ajudando o preço a ficar mais alto?
Julyerme Tonin – Não, ela está travando o preço futuro. Se o preço lá na frente está mais adequado, você não precisa vender o produto hoje a um preço baixo.
O Diário – Para o consumidor, qual o reflexo disso?
Julyerme Tonin – Depende do caso. A bolsa vai atenuar essas oscilações de preço no mercado consumidor. É uma estratégia para garantir a rentabilidade futura, ela dilui o risco do preço. Só que agora, como o preço mais adiante será maior, o que as usinas estão fazendo é agir com cautela em colocar o produto no mercado. Já sabem que o preço no futuro imediato vai estar mais alto.Também contam com o recurso do governo. Então, não precisam desovar os estoques agora.
O Diário – Vocês também acompanham a diferença no preço praticado pelas usinas e pelos postos de combustíveis?
Julyerme Tonin – Essa relação é uma caixa-preta. Aqui na área de Conjuntura Econômica da UEM a gente queria levantar o que se chama de margem de comercialização. Seria pegar o preço final e o de cada etapa da cadeia, que seria produtor, atacado e varejo. Só que é muito difícil ter acesso a alguns dados do mercado. O setor é muito reservado sobre isso.
Pois é. Por isso a presidenta Dilma baixou a medida provisória - com urgência, portanto - colocando o etanol dentro do Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis, que passa a considerar de utilidade pública o produto e, portanto, sujeira sua produção, armazenagem e comercialização passíveis de controle público.
Controle que a ANP parece não estar fazendo nenhuma questão de exercer rapidamente.
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