segunda-feira, 23 de maio de 2011

De Miterrand à Porta do Sol




Há trinta anos atrás, em maio de 1981, François Miterrand tomava posse como presidente da França.


Era a marca do triunfo da social-democracia. Os partidos socialistas europeus vinham de uma história de resistência ao nazismo e disputavam espaço político à esquerda com os então poderosos partidos comunistas europeus.


Foi o início de uma fugaz primavera, com a adoção de princípios humanistas e o avanço da participação do Estado na condução das finanças. A juventude, em peso, apoiava os partidos socialistas e social-democratas.


Trinta anos depois, a juventude européia está nas ruas, descrente dos partidos, inclusive os socialistas e social-democratas.jetivamente, como parece estar acontecendo, estas mobilizações até ajudem a direita a vencer as eleições, como as pesquisas indicam vá ocorrer na Espanha.


Mas seria um simplismo totalmente tolo dizer que elas são uma manipulação da direita para desgastar governos social-democratas. As dezenas de milhares de jovens que não arredam pé da Porta do Sol, em Madri, e muitas outras cidades por toda a Europa não são um fenômeno simples assim de manipulação eleitoral.


Eles representam, antes, a falência de uma alternância de poder que não significou uma mudança de métodos, objetivos e programas econômicos.


O “pensamento único” da era neoliberal levou a esquerda européia a aceitar os dogmas e os métodos políticos pragmáticos.


A alguns, como Tony Blair, fez assumir até o belicismo.


Vamos culpar a juventude, desempregada e, pior, sem sonhos, referências e líderes políticos que se preocupem em representa-la, ou que dêem a este dever menos importância do que ser ou parecer palatáveis à mídia ou ao mundo das finanças e das máquinas políticas?


Ontem mesmo, no The Guardian, o ministro britânico da Economia, Vince Cable, disse que os políticos devem prepara a população para “as épocas difícieis”, para o futuro “doloroso” que vem aí.


E hoje o Guardian publica que os ingleses pagarão até um bilhão de libras pela guerra na Líbia, até setembro.


Não temos, muito ao contrário, o quadro de desespero da juventude espanhola e européia, porque o mesmo quadro, menos gravemente, se reproduz em todo o Velho Mundo.


Mas devemos estar atentos. Se deixarmos que o exercício do poder seja encarado apenas como uma estratégia político-eleitoral, se deixarmos de mostrar que somos diferentes, se pararmos de enfrentar e deixarmos que as “leis inevitáveis” do mercado e do lucro tornem-se, para nós, os dogmas que querem parecer fazer serem, um dia – distante hoje, mas quem sabe amanhã? – faça acontecer aqui as cenas que vemos hoje na Espanha.


Nada disso quer dizer cegueira política, recusa a acordos, desleixo com a governanbilidade, que exige alianças. Mas quer dizer, sim, que nos mantenhamos fiéis aos nossos princípios e compromissos.


Pois, depois quem é capaz de perder os princípios e os horizontes logo perde sua direção. E se deixarmos de compreender que o movimento das massas humanas deve ser a bússola de seus líderes, então perderemos o caminho e seremos tragados por elas.




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