terça-feira, 31 de maio de 2011

Tecnologia brasileira não é moinho de vento

Pás para turbinas feitas pela Tecsis chegam a Olimpia, Washinghton, EUA



Exceto pelo Estadão, que publicou uma boa matéria, quase não teve destaque nos jornais um negócio de extrema importância: o acordo que vai permitir a sobrevivência de um empresa brasileira com tecnologia de ponta, numa área estratégica para o Brasil e para o mundo: a energia eólica.


É um mercado que está crescendo de forma gigantesca no Brasil. O Brasil possui 44 parques eólicos em operação, todos construídos com incentivos do Programa de Infraestrutura (Proinfra).


Segundo a Carta Capital , “apesar do grande potencial dos ventos que sopram por aqui, os turboélices geram apenas 0,5% da energia produzida no País. A expectativa é de que este cenário mude daqui para frente. Nos últimos dois anos, o governo federal contratou a construção de 141 novos empreendimentos, que serão entregues entre 2012 e 2013″.


O potencial brasileiro está atraindo as grandes empresas, e não pratico a xenofobia de não dizer que são bem-vindas, se vêm para gerar energia limpa, pouco agressiva – agressivo, sempre é – ao meio ambiente.


Mas há duas questões importantes a considerar.


Uma, a de que este mercado tem, necessariamente, de estar articulado com a política energética nacional e com a geração hídrica que é a base de nossa matriz de energia elétrica. Por que? Porque a geração eólica não permite armazenar energia, como fazem as barragens das hidrelétricas, e seu fornecimento apresenta oscilações. Bom para nós é que, especialmente no Nordeste, o regime de ventos mais intensos coincide com o período de seca que baixa o nível – e a capacidade geradora – das usinas hidrelétricas.

A segunda é de que não podemos deixar de dominar, aqui, essa tecnologia. E é aí que entra a importância da Tecsis, um empresa que produz as gigantescas pás – algumas com 50 metros de comprimento – que exigem apuradíssima engenharia e tecnologia de materiais para reunirem extrema leveza e resistência.


São, a rigor, como asas de avião. E a Tecsis nasceu justamente da criatividade e perseverança de um engenheiro aeronáutico, formado pelo ITA, Bento Koike, filho de uma família japonesa que veio ao Brasil para escapar da recessão pós-guerra. Bento é um cara discretíssimo, segundo um dos poucos textos que encontrei sobre ele. Até para achar fotos dele é difícil, tamanha é sua aversão aos holofotes que se voltam para um projetista e empresário que tem seu produtos comprados pelas mais avançadas empresas do mundo, como a GE, a Alston e a Siemens e já vendeu mais de 30 mil pás, capazes de gerar tanta energia como Itaipu, que não fica tirando onda de “gênio” e curte mesmo é, além da filharada, fazer bem o seu trabalho.


Com a ajuda, essencialmente, de seus colegas de ITA. Em 2007, ele disse á Época Negócios que “o sucesso da Tecsis pode ser atribuído a uma engenharia muito competente e criativa”. E segue a revista, contando que “reza a lenda que, na Tecsis, só entram formandos do ITA. É uma quase-verdade. “Vou deixar muita gente chateada se disser que são todos do ITA. Então, digo que são do ITA e de outras escolas de ponta.”, diz Bento.


Sua empresa, diante das dificuldades que enfrentou, não saiu degolando os funcionários. No início do ano passado, teve de apelar para um lay-off , regime no qual os trabalhadores ficam afastados da fábrica, mas continuam recebendo seus salários e fazem cursos de qualificação. O salário pago aos afas­tados é integral. A faixa até R$ 800 é paga com verbas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e o restan­te foi complementado pela empresa e a a Tec­sis manteria o emprego dos cerca de 3.500 funcionários. e a empresa conseguiu antecipar pedidos e, em poucos dias, voltou todo o pessoal para a linha de montagem.


Agora, com a reestruturação que encolveu o BNDES, a Unipar, o grupo Estater e os credores da empresa, a Tecsis vai ter gás para se consolidar como uma das líderes deste mercado, que só tende a crescer.


Parabéns ao Bento Koike e a todos os brasileiros que estão mostrando que desejar que este país ser líder não é perseguir moinhos de vento, embora possa ser fazê-los.


PS. Em respeito à discrição do Bento Koike, a foto que vai no post é de suas pás de turbinas. Mas que ele fique sabendo que ia uma ótima, em que ele é só sorrisos. E não por causa dos negócios, mas pelo novo filhote que chegou.



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